Descalvado, a bela adormecida paulista

Praça central Descalvado
Praça e Igreja Matriz em Descalvado. Foto: Dorothea Rempel

Na geométrica e tranquila Descalvado, o turista causa espanto. “Quem são eles? São estrangeiros?”. O movimento da cidade de 32 mil habitantes do interior de São Paulo, escondida entre São Carlos e Porto Ferreira, costuma ser inverso: quem pode, vai passear em outras cidades no final de semana, e muitos jovens vão estudar fora.

Mas quem passa por ali, percebe: aqui tem beleza e história. Embalada pela Serra do Descalvado e regada por cerca de quarenta cachoeiras – a maioria desconhecida até da população local -, Descalvado chama para um passeio. Os ciclistas já descobriram isso: grupos da região organizam passeios pela serra e desbravam os 750 km de malha rodoviária do quinto maior município do estado.

O olhar de fora valoriza a cidade: “Os descalvadenses não percebem o que têm. Muitos não conhecem a própria cultura. Essa visita é boa porque nos faz ter uma outra visão da cidade. Vemos ela pelo olhar do visitante”, conta à reportagem Luis Alberto Olivieri, 48 anos, analista de programação de profissão e ciclista/explorador de paixão.

Luis Alberto nos guia pela cidade junto com a entusiasmada Flávia Cambi, professora particular de espanhol, português e redação que está fazendo mestrado em Linguística.

Começamos o nosso percurso pelo local onde tudo teve início: a colorida Igreja Matriz de Nossa Senhora do Belém, inaugurada em 1832. Afrescos recentemente restaurados cobrem as paredes e a abóbada, enquanto vitrais coloridos brilham à luz do Sol.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Belém em Descalvado
Foto: Dorothea Rempel

A capela foi construída por José Ferreira da Silva, um dos primeiros habitantes da região, devido ao voto religioso feito pela esposa doente, Florência Maria de Jesus. Ao redor dessa igreja com suas cinco casinholas cresceria a cidade de Descalvado.

Tornaria-se “Vila de Belém do Descalvado” em 1865, e “Descalvado” em 1908. Mas por que esse nome? A escolha deve-se ao Morro do Descalvado (950m), que tem partes rochosas e sem vegetação no topo – por isso, calvo – e que servia de orientação aos viajantes.

Serra de Descalvado
A serra de Descalvado e, ao fundo, uma plantação de lichia. Foto: Dorothea Rempel

Hoje, a rural Descalvado vive de agricultura (cana, milho e soja), agropecuária (gado leiteiro, frango de corte) e mineração de areia branca – além de ser a capital dos produtos Pet (rações e insumos).

A culinária acompanha o ritmo interiorano: o básico da alimentação é o arroz com feijão, acompanhado de farinha de milho e mistura (carne, pão, ou ovo frito com farofa).

Na cultura descalvadense não poderiam faltar as lendas e superstições, como o medo de danificar a pequena e desgastada Igreja Santa Cruz, na Fazenda Morro Alto: “A lenda diz que algo ruim vai acontecer se derrubar. Então, ninguém derruba”, explica nosso guia Luis Alberto Olivieri.

Igreja Santa Cruz em Descalvado
A misteriosa Igreja Santa Cruz, na Fazenda Morro Alto. Foto: Dorothea Rempel

Muitas outras lendas e histórias da cidade foram registradas pelo contador aposentado Luiz Carlindo Castein no blog Descalvado Online. Vale a pena espiar!

Confira os locais que visitamos em Descalvado com nossos guias Luis Alberto e Flávia Cambi:

O que fazer em Descalvado

As visitas no Castelo de Almansa e em fazendas precisam ser agendadas.

A passagem de carro (4×4 ou com tração traseira) pelas propriedades a caminho da Serra costuma ser liberada em época de safra, quando as porteiras são deixadas abertas. Entre dezembro e março, as fazendas fazem trabalho de manutenção e deixam as porteiras fechadas. Outra maneira de curtir a Serra do Descalvado é se juntar a um grupo de ciclistas – mas, para isso, o visitante precisa estar em boa forma.

Onde ficar?

Descalvado tem dois hotéis: o simples Hotel Descalvado, localizado no centro da cidade, e o SPA Água Santa.

Onde comer?

Os restaurantes Cabana Churrascaria, localizado no centro da cidade, e o Colher de Paul, localizado no Jd. Belém, servem comida caseira.

O almoço no Cabana ficou em uma média de R$ 22 por pessoa (self-service e bebida). Também há sobremesa e a possibilidade de pedir à la carte.

Outra dica é a cervejaria artesanal Barô, perto do centro.

Enquanto o comércio abre somente no sábado de manhã aos finais de semana, os restaurantes funcionam normalmente.

Cuidados ao desbravar a natureza:

Há pernilongos na beira de rios e em água parada, ou seja, é bom levar repelente. Nas cachoeiras não costuma haver cobras, mas elas são frequentes na região – vale tomar cuidado.

Nossos guias contam porque amam Descalvado:

8 comentários Adicione o seu

  1. Beto disse:

    Show!!!!

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  2. Joaquim ayres disse:

    Cidade pequena, gostosa, aconchegante, de gente mto boa, tanto que casei com uma…

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  3. Américo C. Duarte disse:

    Magnifica reportagem em que relata as belezas reais de Descalvado. Uma cidade otima para fazer turismo rural. Parabéns

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  4. claudia disse:

    Uma descriçao tão bela. Quero ir.

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  5. Excelente trabalho. Realmente os próprios descalvadenses ainda desconhecem o potencial turístico e cultural do município. Luiz Carlindo Arruda Kastein

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